domingo, 13 de fevereiro de 2011

Regresso...

Eu lembro agora da parábola do Filho Pródigo. Dentre as que Cristo contou, uma das mais belas. Vejo o filho saindo de casa. Vejo o Pai na porta de casa, as lágrimas nos olhos, vendo seu filho tão amado indo embora. Vejo o filho partindo sem ao menos olhar para trás. Sua "auto suficiência" lhe impulsiona. Sua vontade de conhecer o mundo e suas belezas o faz caminhar mais apressadamente até desaparecer por completo na estrada.


Vejo o Pai soluçando baixinho. Ouço o filho mais velho a lhe dizer: "deixe-o meu Pai, é mesmo um ingrato!". Vejo o Pai abanando a cabeça como não concordando com a atitude do filho mais velho. Vejo os novos "amigos" que o filho pródigo arranjou pelos lugares em que passou. Vejo as noites gastas em prazeres e vontades. Vejo a herança desperdiçada nas rodas dos escarnecedores. Vejo seu sorriso de satisfação a cada elogio dos novos amigos. As belas palavras o encantam e abafam a cada dia os conselhos aprendidos na Casa do Pai. Ele agora está conectado em um novo mundo. Um mundo de prazer, de sensualidade, de mentiras, de falsos amigos, de traições, de pornografias, de sexo ilícito. Mas ele está surdo pelo som da música das festas. É incapaz de ouvir a voz do Pai ressoando em sua consciência: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há...". Ouço a música cessar, vejo amigos saindo pelas portas, ouço o tirintar da derradeira moeda. Vejo o filho caminhando em direção a um bando de porcos. Eu não consigo diferenciar bem quem é quem. Suas roupas estão sujas agora. Ele está faminto e pede que lhe dêem da comida dos porcos.

Ouço soluços, vejo lágrimas. Lágrimas de um filho que se lembrou de uma mesa farta. Lágrimas de um filho que se lembrou de um colo, de um afago em sua cabeça sempre que se sentia triste. Vejo o filho se mover. Vejo-o levantando-se e tomando o rumo da Casa do Pai. Pobre filho! Ele não sabia quão amarga seria a volta. Não sabia das coisas que iria encontrar pela estrada. Quantos montes teve de escalar, quantos rios teve de atravessar. Foi escarnecido pelos "amigos" quando bateu em suas portas pedindo água e pão para a viagem. Foi abandonado por todos eles quando disse que já não havia herança e que ia voltar para a Casa do Pai. Não encontrou lugar para repousar à noite, nem mesa para assentar-se durante o dia. Teve de caminhar sozinho por muito tempo. Sentia-se perdido. Esquecera a estrada que levava de volta para o Pai. Muitas vezes pensou em desistir. Parou. Chorou. Achou que não era mais digno de ser chamado filho. Ouviu vozes que o convidavam a voltar atrás. Até que um dia, cansado de andar, encostou-se à sombra de uma árvore. O sol declinava no horizonte. Sentiu as lágrimas cegarem seu rosto. A dor do pecado ainda lhe torturava a alma. Até que levantou seus olhos.


Viu uma montanha fria e sombria. No alto da montanha uma cruz. Pendurado na cruz, um homem. Vertia sangue nas mãos e pés. Espinhos pontiagudos lhe perfuravam o crânio. Ouvia o agonizar, mas não entendia bem. Aproximou-se no exato momento em que o Homem dizia: "Está consumado!". Vi o filho prostrar-se aos pés da cruz e chorar copiosamente. Havia encontrado o Caminho de volta. Tudo o que ele havia tentado fazer a fim de voltar para o Pai, já havia sido feito por aquele Homem. Não precisava lutar sozinho, não precisava pagar penitências. Não precisava viver o peso da culpa. Tudo o que precisava era levantar-se e caminhar. E foi exatamente isto que vi o filho fazer. Depois de três dias de caminhada avistou o portão da velha fazenda de seu Pai. E qual não foi sua surpresa ao ver o Pai correndo ao seu encontro e envolvendo-o em um abraço tão amoroso que tudo o que lhe restou foi deixar-se abraçar e sentir outra vez o calor de seu Pai.


Ruthi Lima/ outubro 2010.

Publicado originalmente em "conectadosemcristo".

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