domingo, 13 de fevereiro de 2011

Elias e eu...

Gosto da história de Elias. Homem, aliás, de história praticamente desconhecida. Sabe-se pouco de Elias. Ele aparece como que de repente nos escritos bíblicos e é de repente também, podemos assim dizer, a sua partida. Elias, "semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos", como escreveu Tiago em sua carta. Acho que por isso gosto da história de Elias. Porque era um ser humano como eu, como nós. Não era um super herói, não era um homem-deus. Elias cometia erros, sentia medo, acovardava-se, entristecia-se. Elias sofreu depressão, apesar de ser um grande profeta, um dos maiores dos tempos bíblicos. Já ouvi muitos pregadores interpretando mal os sentimentos de Elias. Já ouvi sermões escarnecendo das dores daquele homem, zombando de sua fuga para o deserto. Ouve um tempo em que cheguei a pensar como eles. Escarneci de Elias. Zombei de sua covardia. Até que me vi presa em uma caverna também. Até que me senti só como Elias se sentiu. Até que senti como se Deus estivesse esquecido de mim. Daí então compreendi a dor daquele homem e chorei. Chorei a minha solidão, chorei a sequidão, chorei o deserto da minha alma, chorei meus pecados, chorei minha covardia, chorei minha descrença em Deus. E em meio a escuridão da caverna, reclamei com Deus tal como Elias. Cheguei a sentir raiva, confesso! Achava injusto as coisas que sofria! Não reconheci minhas culpas. Não sujeitei-me a ouvir o que Ele queria me dizer porque estava presa nas minhas próprias argumentações, nos meus próprios desejos. Até que houve um vento. Vento forte. Despedaçou os planos que construí com minhas próprias mãos sem consultar o Senhor. Todas as minhas teses ruíram como um castelo de areia. Depois do vento, um terremoto. Sacudiu-me de tal modo que lancei abaixo as teorias sobre meu passado, meu presente e meu futuro. Depois do terremoto, um fogo: foi queimada como palha a minha justiça própria, tornou-se um montão de cinzas. Caí ao chão da caverna e chorei. Chorei sob as cinzas, chorei sob os escombros. Chorei sob o pecado, chorei sob a culpa. Até que senti uma brisa a me tocar o rosto. Ouvi uma voz. Levantei o rosto a procurar e, em meio as lágrimas, ouvi o Senhor. Sua voz não era irada, não me fazia sentir medo. Apenas calmaria, como a de um filho que ouve a voz do Pai que a muito não ouvia. Uma voz poderosa, majestosa, mas extremamente doce, suave como do Pai que tenta aquietar o filho diante do desespero. Eu ouvi repreensão em sua voz, confesso. Mas repreendeu-me com tanta amorosidade que tudo o que pude fazer foi levantar-me, tatear as paredes escuras da caverna e, ao avistar Sua Luz brilhando lá fora, sair em direção a nova vida que Ele me oferecia. E, como Elias, saí mais forte do que antes. Se entrei ali cabisbaixa, triste, sozinha, desejando apenas a morte e esperando por ela todos os dias, ao sair, senti o Senhor me impulsionando a fazer coisas que nunca pensei ser capaz de fazer. Saí para desafiar o princípe deste mundo. Saí para ajudar outros a encontrarem o Caminho de volta para Casa do Pai. Saí para ser diferente, como Elias foi. Diferente porque orou. Diferente porque creu. Diferente porque ousou. Diferente porque agiu. Apesar das limitações humanas, e por causa delas, Elias aprendeu a confiar na provisão do Senhor. Aprendamos nós também a lição que Elias aprendeu.


Texto base: II Reis 19/ Carta de Tiago 5. 17-18

Ruthi Lima
Primavera de 2010.

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